20.9.14

O que eu ainda nem vivi

Talvez um dia eu acorde ao seu lado nas nossas bodas de ouro e lembre do tempo que éramos jovens e lembraria da época da faculdade onde nenhum de nós sabia ao certo onde ia chegar fazendo curso de humanas e cheios de ideias na cabeça, e sairia um sorriso meio de saudade da minha boca.  Eu já com as mãos enrugadas olharia a nossa aliança e lembraria do dia que juramos amor eterno um ao outro. 

Eu olharia nossos três filhos e a netinha de olhos verdes iguais ao seus e te amaria mais ainda por ter me dado a família mais linda do mundo. Com dificuldade para ler por causa da visão cansada, me sentaria em frente ao baú que fica no porão que eu sempre te peço pra trocar a lâmpada e leria de novo todas as cartas que escrevia pra você.

 Lembraria do nosso primeiro beijo, do nosso primeiro ano de namoro, das briguinhas por ciúmes, do pedido de casamento, do feijão queimado no primeiro ano de casamento, da notícia da primeira gravidez, do nosso cachorro que estragou o estofado do sofá, de você cortando a grama nos sábados de primavera, das dificuldades pra pagar a nossa casa, dos dias estressantes de trabalho, da vez que eu entrei em crise quando achei o meu primeiro cabelo branco e você riu de mim. 

 Das nossas noites de amor ouvindo a chuva cair, do seu colo que sempre foi aconchegante e de todos os verões na praia. Os olhos se encheriam de lágrimas e eu choraria de emoção e saudade por ter encontrado o amor da minha vida aos vinte e poucos anos.

Talvez eu cuidasse de você e desse na hora certa o seu remédio de pressão, fizesse aquele frango assado com batata no almoço de domingo com as crianças, brigasse sempre por você apertar no meio da pasta de dente e fizesse carinho nos seus cabelos, agora brancos.

 Talvez eu te olharia dormir e com orgulho, passaria a mão nas suas costas cansadas te agradecendo por ter me feito a mulher mais feliz do mundo. Talvez morrêssemos dormindo e partíssemos para a grande viagem juntos, esperando os próximos capítulos do nosso livro de histórias.




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