29.10.14

~amor~ líquido


O amor é uma lágrima que

uma hora está dentro

de você

e outra escorre

pelo rosto
até secar

e
não mais

existir

24.10.14

escolha gráfica binária filtro seleção certeza sorte (ou: construindo o improvável)

não
não
não
n
n
n
gato
não
não
..
...não
não
...gato
não
n
n
n
gato
n
não
gostoso
não
mulher
não
n
n
n
n
benza
gato
não
não
não
não

22.10.14

Ponto.

O fim é um lugar
Não o término
o lugar
da eternidade
Onde tudo fica em constante

Mas a gente é feito de célula
que nasce, morre, nasce (outra vez)
Até que
o sistema todo





A morte é uma constância





Choro o cessar do movimento
Choro em luto, resposta ao silêncio. 
  

6.10.14

Tempos difíceis

Lembro-me de ouvir meus avós e seus lamentos apocalípticos sobre os novos tempos. Achava esse clichê uma característica de quem não entendia toda revolução tecnológica e a maior liberdade social. 

Mal sabia: tola fui eu.

Era domingo à noite e da minha janela não ouvia a Vera, mas outra mulher pedindo socorro, uma menina chorando,  gritava “para, para, pai”. Vi que a estúpida violência ainda estava aqui. Nesse bairro classe média alta, e suas ‘elites’, intelectuais, econômicas, financeiras, políticas.  Acusam a periferia de violência e ignorância. Quem é o violento?

Mal sabem estes: tolos são eles. 

Anos de estudos e massacre em prol da ciência, será que não percebem? Ainda vivem nas cavernas. Suas merdas poluem os rios sagrados que os ditos primitivos tanto preservaram. E agora choram ao leito seco Cantareira. Quem é o primitivo?

Está tudo errado. Tola fui eu de acreditar que não. E os gritos daquela multidão: “Não!”, “Fora”; a criança pirracenta já em silencio a caminhar.  Eu poderia dizer que estou de luto, mas é ingenuidade,  luto  pelo que já estava morto muito antes deu nascer.

Enquanto escrevo, sinto o peso das mãos da minha avó no meu ombro:

- Se acalma filha, tempos difíceis virão.



2.10.14

Você é

Você é aquele passarinho que eu te falei outro dia. Bem aquele bonitinho que canta pra me acordar de manhã, que fica me olhando, que eu gosto que fique apoiado no meu dedo, mas que eu sei que não é meu e que pode voar pra outro dedo a qualquer hora. 

Você é aquela música gostosa que eu coloco pra ouvir o dia todo, você é a cereja do meu sorvete de chocolate, você é como aquela pedra que tem a cor dos seus olhos. Você é também o meu molho de macarrão favorito, você é aquela minha mania, você é aquela droga viciante.


Você é aquela coisinha que dá vontade de ficar olhando pra sempre, de morder pra sempre, de prender numa gaiola pra sempre. Mas aí eu volto a pensar sobre liberdade e você não ficaria feliz numa gaiola. Então me contento em te apoiar no meu dedo e torcer pra que você não se encante em outro canto. 




1.10.14

Eu entendi tudo