30.8.15

sobreserfeliz

todo o mundo parece tão feliz o tempo todo que quando tanta tristeza é exposta
nenhuma reação:
um nada de nada.


»»»»

todo o mundo o tempo todo feliz feliz

feliz todo o mundo parece tão, tão feliz tempo todo
tudo sempre tão demais
tempo demais todo pensado em feliɀ
                                                          cidade
                                                                    feliɀ
                                                                          consumo
                                                                                        feliɀɀfeliɀɀɀ,

todo o mundo tão feliz o tempo todo que até parece
até se esquece----

⊱tristeza⊰
também
⊱beleza⊰

tristeza também
feliz tempo todo
sem saber
〈coitad-s〉
sem saber triste também
o triste também é belơ

o triste também é belo porque
confuso porque
sentido porque
pra que¿?

se todo o mundo feliz feliz o tempo o tempo tempo todo,
céus,

então tudo, tudo
sempre tão, tảỡ,
céuƨ,


««««


felicidade todo o tempo,
triste tédio:

todo o mundo o tempo todo


triste sem saber

20.8.15

Crush virtual

Manhã

"- fico feliz com a mensagem dela, a ideia dela me faz feliz porque me joga no lugar que eu queria estar, feliz, ali, apaixonadinha

- Acho que a gente só precisa ser honesto

-Honestidade demais assusta. 

- Por que?

- As pessoas têm medo, acham que você ta surtando

- Mas você não ta surtando, não ta surtando, só ta intenso, e ai você sente, sente e vê que saiu, agora já foi... você ta preso à sua intensidade"



- Não... Não... Nãoooo, Até poderia ser essa. Pensava enquanto olhava as pessoas passarem em direção a saída do metrô.

 Apesar de ser inverno não fazia frio nem calor, uma noite agradável na capital carioca. Essa era a primeira vez que iríamos nos encontrar dessa maneira. É  interessante conhecer no virtual  pessoas que convivemos no dia-a-dia, entender como se expressam, sozinhas com seus pensamentos, a escrita única, se torna fácil de ser reconhecida. Mais interessante ainda é ver o virtual que se transforma em real. E ai surge uma nova percepção sobre a mesma pessoa; o cheiro, o tom da voz, o ângulo que nenhuma fotografia captou, o modo de andar, de se projetar nas ruas, entre os carros, sua pele. Sentei em um banquinho verde da praça e esperei 

[a menina do Tinder]

 Alguém acenou a distância, me levantei e andei ao seu encontro.  

-Oiii?
-Olá!
Respondia abraçando-a

- Vamos em direção a Lapa?
- Sim, vamos.

Não a reconhecia, mas sabia que era ela. Diminuí os passos um tom antes, deixando-a um pouco à frente. Observei o cabelo, o modo como o penteou, seus ombros largos. Interessante, pensei. Ela deu uma meia parada e olhou para o lado, para ver se ainda andávamos juntas. Me apressei e puxei um assunto qualquer. Caminhamos alguns quarteirões enquanto decidíamos qual bar agradaria as duas. 

Estranhos sentimentos atravessavam zombeiros a minha entediante autoconfiança - o que será que está pensando de mim? -  Eu era tão forte e tão fraca, assustada e  certa,  consciente de tudo a minha volta, sóbria embriagada, sem graça, mas a fazia rir. Falei compulsivamente e me culpei por falar de mais.

- Desculpa, não lembro o que estava falando... Humm, é, me perdi, enfim, você deve ta me achando meio louca

 -E você tem um superego meio estranho! Ela disse. 

Perdi minhas habilidades de julgamento, não sabia identificar sarcasmo, ironia, afeição, nem uma inocente pergunta e me armei.

- Olha, eu  to insegura e não tenho medo de te dizer isso. 

Tudo parecia um erro adolescente. Pedimos a conta, andamos até o ponto, nos despedimos e eu acenei pra ela de dentro do ônibus. Trocamos mais algumas mensagens e sua figura física adaptava-se a sua imagem no virtual. Eu já a reconhecia na escrita solitária, escorregando seu dedo na tela de vidro do celular, a reconhecia nas ruas, no jeito único de caminhar. Próxima e distante. 

Não sei quanto tempo faz, não importa. O passado é lembrança esfumaçada que me orienta no mundo e ajuda a me construir .

O presente as vezes parece uma prisão, ausente de tempo,  só se é aqui, agora, pra sempre. O sol vem e nem percebemos o dia mudar. Sento analisando as cores no céu, do azul escuro para o claro, noite e dia. E eu que sou facilmente entretida, vago, vejo, ouço, converso, revivo, tantas outras coisas, ausente de tempo, só se é aqui, agora. 

As vezes ainda penso nela.   
Livre, livre...




10.8.15

Como entreter um geminiano

De a ele uma ideia, uma espécie de paixão platônica.
Depois o alimente de 15 em 15 horas.
Deixe-o em fogo baixo por uma semana
Quando ele entrar em combustão,apague o fogo com um balde de gelo.
Agora repita todo o procedimento novamente

Diário de campo


Niterói, 10 de agosto de 2015

"Sou poeta e não aprendi a amar"


Não, a vida não me fez gótica, no meu tempo o rock era outro. Eu tinha 13 anos e caia no chão em overdose sem drogas ao som Nirvana. Lembro a primeira vez que vi Cassia Eller mostrar os peitos e pensei " que loko". Aquela noite passei horas refletindo, talvez eu ainda fosse uma garotinha. 

Tenho 28 anos e me acho velha de mais pra dizer que nunca experimentei certas coisas. A gente cresce com aquela mentalidade de etapas da vida, como passar de série no colégio, e ai você fica velho de mais pra dizer " não aprendi esse assunto de matemática" ou " eu nunca beijei na boca", 

Como assim não aprendeu? Isso é matéria da 5ª série! 
Como assim não beijou? O que você estava fazendo nas festinhas dos seus amigos?  
Eu tava dormindo na aula, eu tava sendo lésbica quando ninguém mais era, quando Cassia Eller mostrando os peitos na TV brasileira era ápice da liberdade. Eu tava me entediando com todos vocês enquanto bebia minha vodca barata.

Eu posso ressuscitar milhares de fotos da minha época revolts, iriamos rir de tudo como se as fases fossem outras, mas a certeza é que essa ainda sou eu.  Vim ao mundo queimar.  Meu pai dizia que eu pareço ter saído de algum clip da  Cyndi Lauper. Espero que seja aquele onde tudo termina em festa.    






  






2.8.15

O sonho

Seus olhos castanhos me olhavam tímidos, 
O vento da janela do ônibus balançava seu cabelo,
 igualmente castanho, meio ondulado 
teimava em tentar arruma-lo atrás da orelha 
e sorria de canto de boca. 
Senti sua mão quente se aproximar da minha
Antes que eu pudesse contrai-la.
Senti-a segurar me firme

- Se eu não passar aqui esse ano vou para Brasília estudar Direito.


Fiquei em silêncio olhando a paisagem passar
Alguém gritou no fundo do ônibus.
 Virei-me para trás, tentando entender o que acontecia
 depois olhei para o lado e estava sozinha 
Corri para a outra janela, procurando no ponto de ônibus se  ela havia descido 






Tudo ficou branco e minhas mãos estavam em baixo de algo macio, o vento batia em uma folha de papel, tentei me mover e senti que ainda estava deitada na cama no meu quarto. Tirei o cobertor, sentei cruzando as pernas, estiquei a mão e desliguei o ventilador. 

Escovei os dentes,
 Fiz um 
sanduíche,

 Liguei a TV
 Fugindo não ter  saudade.
 Fingindo não me sentir sozinha.