26.10.15

Dias de pouca fé

12.10.15

deve ser amor

O  som tava numa frequência gostosa
A luz amarela, suave, quente, gostosa
Os sentidos aguçados por causa da erva
Quando eu mando por mensagem:

Sempre que alguém fala o signo pra mim, eu tenho vontade de te falar.
 - Deve ser amor.

- É, deve ser. Disse ela do outro lado da linha.


                                                                                                                            9/10/15

3.10.15

Faltavam dez minutos para o meu expediente acabar. Arrumei o cabelo no espelho do banheiro, passei um batom, peguei minha mochila e sai.  Quem me conhece sabe que sempre estou de mochila preta, pendurado no zíper: fitas finas  cor frevo que achei nas areias da praia do nordeste. Todas as minhas coisas estão lá dentro, em uma certa ordem automática. Me acostumei com o peso, a postura calejou, jurei que aquela cerveja ia ser a última, e a última, e a última, embriagada fingi não ver o que me contaminou, uma patética substância, a essa altura álcool é uma ideia romântica. Até aquele momento também fingir não ver outra forma de contaminação - tão patética quanto - os fatos, fardos, pessoas e pedaços de histórias cômodas, em uma ordem quase automática, carrega-los me faz muito sentido, era o que me cabia.

Se a consciência fosse  sóbria certamente gritaria "-Eu não quero isso pra mim: Que me roubem, que me levem, sem culpa." 

Mas como olhar para o passado sem culpa por não ter sido uma pessoa plena talvez?  Eu nem sei o que isso significa. É mais fácil quando se é religiosa,  a culpa é da carne que ainda pinga vermelha a vida impura, o pecado da originem, carecendo de purificação. Uma perfeição jamais alcançada, só se tem a  necessidade de se des-culpar

 O mundo continua vivendo em mim, em todos os seus elementos e micropartículas, água, ar, carbono,  em uma ordem quase automática que me torna humana, sem isso a vida é outra coisa ainda incompreensível, desmoronando a ideia também automática de última faceta na terra; a eternidade. É preciso aprender a dizer adeus.


Eu merecia ser culpada e também merecia ser livre. E a liberdade vinha, condicionada ao momento, limitada pela simples existência de ser uma coisa e não outra, um humano e não uma planta, uma mulher e não um homem, você e eu, mais ninguém. Sempre foi só você e eu.

O medo tem várias formas, fico aterrorizada em pensar ser herdeira eternidade.
Caminhei até as barcas, depois até o metro sentido Zona Sul e a esperei chegar.
Eu a achava incrível, o jeito que ela andava a postura, o toque forte, era tão sóbria, certa, me tocava como quem sabia o que tava fazendo, tudo sempre foi dela. Eu sou o oposto nada é meu, sempre quis algo além, me transbordar e ir, caminhar, abandonar tudo, a minha liberdade é a mutação transcendente.
Em um ponto do universo a nossa existência se encontrava, camufladas, sabíamos exatamente onde queríamos chegar.  Ela com uma intransigência agressiva que aos julgamentos superficiais confundia-se com o caos da guerra. Eu com uma leveza intransigente que aos julgamentos superficiais confundia-se com inercia e passividade.  Mas nem eu nem ela nos prendíamos a isso e antes mesmo de que qualquer pessoa nos vissem de verdade, já havíamos ido.
Dizem que o amor é o encontro com a sua outra metade. Pra mim, essa ideia de parte ausente que só se completa com a presença do outro nunca fez sentido. A outra metade não é uma condição para a felicidade mas sim uma metade que é tão parecida comigo, e tão oposta, que me fez entender a existência de  objetos com dois polos, imas que se repelem absurdamente ou se encaixam milimetricamente em um só, tudo dependendo de como seus polos serão unidos.
 Eu quis encontra-la porquê me via em um espelho, eu a reconhecia em mim. Uma miragem hipnotizante, eu era ela. Nunca me senti tão ligada a alguém, e assim entendi o que era amor. Nenhuma palavra vai ser tão grandiosa, nada vai ser tão intenso, só me resta o silêncio. Mergulhei tão profundamente que fui sugada em um espiral, o fundo era pouco, quando dei por mim já não tinha forças para chegar a superfície e desmaiei.  Esse meio termo de consciência que se desvanece é o fantasioso mundo da morte, você vê anjos,  delira, e tem os outros que também estão no mesmo mergulho do amor, fui pega pelo braço e cuspida para superfície. Reage, respira, elas diziam, depois sumiam nas águas. O sol quente no meu rosto molhado e a incrível vontade de viver tudo outra vez