26.5.15

Para quem quiser continuar lendo o conto
em sequência


25.5.15

oníricapaixão



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Ἆs vezeƨ
diɀ-ƨedor
ॐlírica
paiϰão




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22.5.15

desintendimento

A discussão política é sempre baseada no mal-entendido. Expressa-se mal, interpreta-se a seu ver e no fim o ponto sempre gira em torno das opiniões auto-centradas, da disputa pela mesma realidade. Por isso a ação coletiva, partidos, colegas de luta: é preciso confiar para avançar. Não se faz política sozinho, sua base é a confiança.

O desafio é a empatia em um ambiente de constante ameaça e inconsciente opressão; se todo mundo achar seu problema o centro das atenções, fica difícil o debate. Sem perceber a inconstância do espaço, a ilusão do tempo e a inevitável despedida de um mundo no qual nos afeiçoamos, acreditamos sinceramente em nossos dilemas como os grandes obstáculos à felicidade individual.

Mentira. Outras pessoas são as que tornam teus sonhos possíveis na construção de uma realidade conjunta, fluida, sempre conflituosa. Mas aprendemos que o conflito é ruim, não briguem, é culpa dessa, ruim é ele, separa a briga tranca o corpo indeniza bolso; finge que nada aconteceu.

Impossível. Aconteceu causa efeito aconteceu mundo aconteceu, não volta mais. É preciso lidar com o presente, mesmo com seus obstáculos. É preciso entender o ônus da existência, a tragédia humana em seu cotidiano, no ato ordinário, no semblante ignorado das letras jamais escritas.

O problema é de cada um, o meu o seu, situados historicamente e projetados em um futuro sempre incerto, margeando erro. Avançar denota pausa, reflexão; então andamos. Juntxs.


19.5.15

"ALUGA-SE UMA VAGA" ***Segunda parte***



Depois que meu irmão mais velho casou, travei uma longa batalha com a minha mãe pelo quarto dele. Isso porque eu queria transformar o quarto em um "escritório", minha mãe queria um quarto de passar roupa e um depósito para guardar enfeite de festa de família.

- Mãeeeeee, cade o meu sofá?

- Já falei que esse sofá é pra ir pro  lixo! Não tem como abrir minha tábua de passar roupa.

-Mas esse sofá é perfeito pra esticar a coluna depois de longas horas no computador

- Pra que? Pra você virar as noites no Orkut e no MSN, acordar atrasada pra aula e dormir a tarde inteira. Você esta estragando a sua saúde com essas porcarias.

- Dessa vez é diferente, eu vou escrever em um blog, já comprei tudo!

- Só quero ver!

Era só uma questão de tempo até esse bloquei intelectual, que  durava 22 anos, passar. Enquanto isso o meu maior problema era arrastar um sofá de 2 lugares para o quarto outra vez. Só precisava de um nome, uma ideia, algo que fosse realmente bom. Fiz o que sabia fazer de melhor, contar com a sorte. A internet estava ai para isso, navegar a derive no vasto mundo de informação e acasos.

A ideia nunca vem se sua mente não estiver preparada para recebe-la. O amor da sua vida vai esbarrar diversas vezes com você na rua se jamais estiver preparado para reconhece-lo. A melhor oportunidade de emprego se perderia  se você tivesse achado que seria incapaz de consegui-lo, se não tivesse ido a entrevista, se não tivesse na frente  do RH com olhos audaciosos de quem sabe o que aquilo é para você. O obstáculo é invisível, embora as vezes real,  a pergunta que fica é "como"? Como reconhecer todas essas coisas?

Um dia me matricularam no colégio, decidiram que roupa eu deveria vestir, fiz algumas provas, passei, automaticamente fui para a próxima etapa, ai eu entrei na universidade, assinei alguns papeis e estava esperando essa etapa passar também. A vida de classe média, medianamente passa de etapa em etapa,  tão morna, fiquei esperando ser cuspida no mercado trabalho sem pensar muito sobre isso, como havia feito até então.

Uma música tocava enquanto esperava as outras baixarem no eMule, a barra de tarefas brilhava em laranja avisando novas mensagens no MSN e eu lia alguns grupos no Orkut. Já passava de uma da manhã, nessa altura nem lembrava mais sobre fazer um blog ou algo tão genial. Entrei em um grupo pequeno de uma festa de amigos que havia ido a alguns dias atrás. Comecei a stalkear  a lista de membros, sem nenhum motivo aparente além de mera curiosidade. Um dos membros me chamou atenção, não só por pela beleza, mas pelo fato de jamais o ter encontrado em festa alguma, ninguém o conhecer, não ter amigos em comum e mesmo assim esta ali.


Ouvi certa vez que a gente só muda de perspectiva quando algo te coloca em uma posição de desconforto, estresse, trauma, fim de ciclo. Eu não sei se essas coisas são verdades, comigo funcionou assim: Um amor, o mundo que desabou sobre minha cabeça, um e-mail misterioso, recebido depois de uma noite de bebedeira,  uma universidade que não lembrava que havia prestado vestibular (pelo menos não para aquele campus), a preocupação com  mensalidades abusivas das universidades privadas e o "aluga-se uma vaga" passou a fazer parte da minha rotina.

Esse blog nasceu de um surto, outras pessoas compram a ideia e começamos a produzir sobre qualquer coisa. O amor de verão passou, a faculdade está no final,  jornada que se encerra. Vamos entregar o apartamento daqui alguns meses o que me fez perceber que não demorará para que esse blog, como tantas outras coisas na internet, seja apenas um depósito de lembranças de um período de minha vida que julgo, até então, o mais importante, que me transformou no que sou hoje. Desde o inicio o blog recebemos bastante visitas diárias, mas não temos ideia quem são essas pessoas, como nos encontraram? O que querem ouvir?

Posso começar essa história pelo dia que entrei na República Vera ou continuar de onde parei. Ainda não sei o que será. Isso é para você que de certo modo nos acolheu, façam um sinal, pisquem as luzes, comentem, seja lá o que for. Decidam esse final.








13.5.15

"ALUGA-SE UMA VAGA" ***Primeira parte***




Era madrugada e eu vasculhava os grupos de facebook atrás de um lugar para morar. Faltava pouco para o início das aulas  na faculdade. O desespero aumentava a cada aviso de nova mensagem  "- Sinto muito mas, já preenchemos a vaga!".  Sou mais uma entre tantos outros casos de  estudantes que saíram da casa dos pais para se aventurarem nas famosas repúblicas universitárias.

Lembro quando era criança e vi pela primeira vez colado em um orelhão: "ALUGA-SE VAGAS EM CASA DE FAMÍLIA". Fiquei imaginando  essa ideia estapafúrdia de morar com estranhos, tão além da minha realidade que mal conseguia formular um julgamento moral sobre o assunto.  Quem são esses seres místicos? Será que as famílias deles eram tão chatas que resolveram alugar outra? Desde então, nunca mais parei de reparar nos cartazes sobre vagas em casa de família ou pensão.


Os anos passaram, a cabeça se encheu de mundo, o vestibular estava próximo, o frio na barriga e o medo eram partes constantes dos meus dias. Sempre achei que o conhecimento era uma entidade maior que pairou nesse ponto da galáxia e construiu o céu, a terra, a água e quando estava de saco cheio misturou tudo, por acidente se fez barro, por deformação das curvas se fez humano. Ninguém nasce sabendo, o conhecimento é uma construção, um adestramento de fluxos de pensamento, um plugin que te conecta ao mundo a nossa volta. Se eu soubesse disso desde o começo teria tido mais paciência comigo mesma, não me desesperaria tanto, aproveitaria melhor meus anos de colégio e o de pré vestibular, sem medo e nem culpa. Eu não passei no vestibular nesse ano (2004), nem no outro (2005), e nem no outro (2006). Na verdade, só entrei para uma universidade pública 6 anos depois de ter terminado o ensino médio. Antes disso, estudei em uma dessas redes privadas.


Ano de 2007


- O nosso desconto é de 20% para novos alunos
- Mas se eu for boa aluna, o preço cai?
- Só um minuto por favor... Não, nosso desconto é tabelado pela central de financiamento. Caso deseje pode preencher essa ficha e anexar: uma carta de recomendação, comprovante de renda, 3 últimas conta de luz, histórico escolar, entregar tudo nossa central de atendimento para que possamos abrir um protocolo de análise e possivelmente dar um desconto maior. 
- Onde é a central de atendimento?
-Virando o corredor a esquerda, vai passar pelo grande salão, é na porta de vidro. É só pegar a senha e aguardar a ser chamada. 

Estava paralisada frente a burocratização da educação. Pelo que entendi de universidade particular até aquele momento é que Ela é dividida por núcleos. Mais ou menos assim: se você precisa de um certificado de regularidade de matrícula ou simplesmente a assinatura do seu coordenador em algum documento, resolver questões sobre financeiro, pedir eliminação de disciplina, qualquer que seja o problema, o coordenador não tem autonomia para assinar, o professor não tem autonomia para escolher a melhor forma de avaliação de alunos, o financeiro não tem autonomia para te receber e discutir descontos ou alteração da data de vencimento de boleta. A central de atendimentos é o setor  que blinda o acesso dos estudantes a um contato direto com as partes institucionais.



- Mas, como assim não pode??? Me informaram que eu poderia solicitar mais desconto por aqui
-Senhora, infelizmente o desconto é tabelado.
- Eu já rodei essa universidade inteira. Toda hora me encaminham a um setor diferente onde me passam informações completamente conturbadas e distintas. Não tem ninguém com quem eu possa conversar? Sei la, um supervisor, o coordenador, diretor, alguém?
-Não.
-Posso abrir uma reclamação?
-Não sei te informar... verifica no sistema do aluno.
- Ok...

Respirei fundo e sai da sala. Nunca me senti uma dessas crianças especiais, que nos apresentam como portadora de uma capacidade cognitiva extraordinária, nem tive muitas influências que me abrissem portas.  Eu era  mais uma, entre tantas outras, apenas mensalidades no final do mês, identificada por um número de série (matrícula) caminhando no saguão brilhante de shopping universidade, tendo como dia-à-dia um sistema que me imobilizava e idiotizava. Já estava descrente da meritocracia falha que diz: "Se esforce que será um vencedor", "era pobre mas, hoje fala 7 idiomas fluente e se formou em datilografia nuclear pela UFFFFFFFFFFFFFEUSOUFODA. ".

Não desmerecendo quem o fez mas, eu nunca acreditei que era capaz de lutar por coisa alguma, nunca acreditei que isso era possível. Os meus exemplos de vida eram como Deuses intocáveis, dialogando comigo de um patamar que jamais iria alcançar.  Para eles, eu apenas rezava na esperança de ser tocada pele mesma sorte que um dia os abençoou.  Meu sonho era ser jornalista mas, eu tinha sérios problemas gramaticais, não sabia nada de política além do senso comum e meu inglês era péssimo. Sabia que precisava me esforçar, mas não tinha ideia de onde começar. Desci no centro do Rio e vaguei sem rumo,  "ALUGA-SE VAGAS PARA MOÇAS" dizia o papel sujo em um posto, "- devem ser prostitutas", dei o ombro a esse pensamento, a cara de reprovação e indiferença continuei a caminhar. Entrei em banca de jornal e comprei uma revista que vinha com um CD-ROM "monte seu blogger de maneira rápida"  

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