26.9.14

A tatuagem

Desci a rua em fluxo cotidiano. Outro dia de trabalho, estudo e acasos. Dentre tantos que ali passavam, fitei o colorido das figuras geométricas inscritas em um ombro.

Os cachos dos cabelos moviam-se, com o balançar do corpo, hora escondendo, hora mostrando a tatuagem.

Enigmático, desenho e mulher, caminhava em minha direção até momentaneamente chegar ao meu encontro.

Fitou-me o mesmo olhar curioso que tive ao avista-la. Pensei que havia algo de loucura em seu olhar, e ri do absurdo que me pareceu este devaneio sobre alguém desconhecido. 

Tive a sensação, enquanto ria, de que também estava endoidecendo. Em um susto estapafúrdio, escondi os dentes atras dos lábios e forcei a boca a fechar.

25.9.14

Vem cá...

Fica. E finge que a gente não tem nada pra fazer lá fora hoje. Mergulha sua boca na minha, diz no meu ouvido aquilo que todos os casais apaixonados dizem. Abre um sorriso bobo quando nossos lábios começam a se separar finalizando aqueles beijos de cinema que só você sabe me dar. 

Me dá aquele abraço cheio de saudades quando a gente se encontra, me deixa me derreter feito uma manteiga em você. Fica. E roça sua perna na minha na hora de dormir que eu faço carinho na sua nuca. Fica. Encosta teus pés nos meus pés entrelaçando nossos dedinhos de uma maneira singular. 

Vamos dormir agarrados, eu com os seios nas suas costas, você sentindo meu cheiro e eu querendo congelar o tempo pra nunca sair daquela sua cama pequena. Lembro que é cedo pra falar de amor então só me ajeito na tua conchinha. Fica. E me deixa ficar também.

Abra as suas fraquezas pra mim.
Me deixa entrar. 

23.9.14

Sobre mentiras compulsivas

- No começo eu acreditava porque era inocente.

- Será que a pessoa não percebe que todos já sabem?

- É mais fácil acreditar que os outros são idiotas do que aceitar a sua realidade

- Que triste, só ter mentiras para se orgulhar

E a mesada do político pagante ao cavalete humano pedra no caminho transeunte?

Esse ninguém nota, esse ninguém 
Veja só
É assim que as coisas
São, só
Esquece isso,
Vai

Vota em mim, vai
pra rua, fazer bagunça, 
Não 
Bate nessa tecla
Sim? 

Esquece, tá?
7123
Quero ser sua
Voz

22.9.14

Saudade


A saudade é uma doença crônica, volta e meia dispara a doer e machucar. Hoje foi um desses dias de crise, de saudade, de vontade de voltar a viver uma época que virou passado. Quando estamos no hoje, nem paramos pra pensar que daqui a pouco isso virará ontem, e é por essa falta de percepção que dói tanto lembrar do passado. 

Dói lembrar dos sucos de laranja espremidos na hora do almoço, dos cochilos nas tardes quentes de verão, da minha insistência em cortar o seu cabelo sem nunca ter pegado numa tesoura, do cheirinho de amaciante que eu sempre colocava nas suas camisas, do cheiro do seu corpo, do seu nariz, de você. E eu me pergunto onde é que eu tava quando o nosso mundo começou a cair, porque eu só percebi o desastre depois que tudo já estava morto. 


Não culpo você, embora você aos poucos abrisse a porta e sem perceber, destrancava o portão para que eu fosse embora. Não me culpo também. Eu precisava ir, conhecer o mundo, pessoas, coisas e me conhecer. 


Talvez tudo aconteceu exatamente no tempo certo - ou isso tudo não passou de uma teimosia nossa contra os fatos que a vida colocava - ou os caminhos que ela mandava a gente seguir. Sempre foi muito a nossa cara ir contra o mundo. Eu só queria que você soubesse que quando penso em felicidade, ainda é você que me vem a cabeça.

20.9.14

O que eu ainda nem vivi

Talvez um dia eu acorde ao seu lado nas nossas bodas de ouro e lembre do tempo que éramos jovens e lembraria da época da faculdade onde nenhum de nós sabia ao certo onde ia chegar fazendo curso de humanas e cheios de ideias na cabeça, e sairia um sorriso meio de saudade da minha boca.  Eu já com as mãos enrugadas olharia a nossa aliança e lembraria do dia que juramos amor eterno um ao outro. 

Eu olharia nossos três filhos e a netinha de olhos verdes iguais ao seus e te amaria mais ainda por ter me dado a família mais linda do mundo. Com dificuldade para ler por causa da visão cansada, me sentaria em frente ao baú que fica no porão que eu sempre te peço pra trocar a lâmpada e leria de novo todas as cartas que escrevia pra você.

 Lembraria do nosso primeiro beijo, do nosso primeiro ano de namoro, das briguinhas por ciúmes, do pedido de casamento, do feijão queimado no primeiro ano de casamento, da notícia da primeira gravidez, do nosso cachorro que estragou o estofado do sofá, de você cortando a grama nos sábados de primavera, das dificuldades pra pagar a nossa casa, dos dias estressantes de trabalho, da vez que eu entrei em crise quando achei o meu primeiro cabelo branco e você riu de mim. 

 Das nossas noites de amor ouvindo a chuva cair, do seu colo que sempre foi aconchegante e de todos os verões na praia. Os olhos se encheriam de lágrimas e eu choraria de emoção e saudade por ter encontrado o amor da minha vida aos vinte e poucos anos.

Talvez eu cuidasse de você e desse na hora certa o seu remédio de pressão, fizesse aquele frango assado com batata no almoço de domingo com as crianças, brigasse sempre por você apertar no meio da pasta de dente e fizesse carinho nos seus cabelos, agora brancos.

 Talvez eu te olharia dormir e com orgulho, passaria a mão nas suas costas cansadas te agradecendo por ter me feito a mulher mais feliz do mundo. Talvez morrêssemos dormindo e partíssemos para a grande viagem juntos, esperando os próximos capítulos do nosso livro de histórias.




18.9.14

Sobre adestramentos de cachorros, chatroulettes e a emanciopressão humana

Quem é mais esperto? O cachorro ou o humano? O cachorro por agradar a pessoa, ou esta última oferecendo comida pra um bicho só pra vê-lo pular?

“Cachorro idiota, eu dou comida e você faz o que eu quero”

“Humano idiota, eu faço o que você quer e ganho comida”

No fim, ambos são completos imbecis: vivem um jogo de fingimentos sem fim – até o fim da vida de ambos

O chatroulette é assim: os usuários vagam em uma cidade de completos desconhecidos e, ao se esbarrarem, iniciam um jogo de manipulações e julgamentos, em que o objetivo de um é o entretenimento do outro.

Nesse ciclo, permanecem skipping ou jogando, de forma a conseguirem pirocas, um bom papo, peitinhos ou algum louco gravando o próximo viral do youtube.


O chatroullete diz muito da internet, assim como os vídeos de cachorrinhos adestrados.


17.9.14

Eu tenho sorte

Sorte de ter alguém que se orgulhe do que sou e faço.

Sorte de...

... até gostaria de dizer mais coisas.

 É que ela ainda está bagunçando meu cabelo e dizendo que o cheiro do meu shampoo é bom

Hora do chá

15.9.14

O interfone

Já passava de meia noite quando o interfone tocará
-Sim, Pode subir!

A porta já entre aberta e eu curiosa saindo do quarto perguntando:

-Quem é?

Antes que pudesse receber uma resposta, entra ligeira. O vento, tão ligeiro quanto ela,  desliza com seu corpo cozinha a dentro espalhando aquele cheiro doce de mulher e drink. 

- Eu tive uma péssima noite. Tudo deu errado. Pode me da um copo de água? 
- Só tem da torneira.

E ela aceleradamente a emendar um assunto no outro, enquanto eu, sem prestar a devida atenção sobre o que se tratava os seus desesperos, enchia, calmamente, com água da pia, um copo de vidro desses de botequim. 

- ... entende oque quero dizer??  Se ele não me ligar eu vou ficar chateada por que foi escroto da parte dele. Mas, se ele me ligar eu vou ser obrigada a ser escrota com ele, e vou ficar chateada.

Balanceio a cabeça como se isso realmente fizesse sentido. Embora saibamos, que esse diálogo é como os outros desse blog, um devaneio. E para  essa tranquila vizinhança, um ruído aleatório que rompe o silêncio


Sobre caixotes

Eles podem ser parte da sua mobília

12.9.14

"A gente tem que sê feliz"

"cê sabe muito da vida, cara"

"eu to chapada"



















Vera nada ouve 
Não houve nada 
Tá tudo bem Dona
É so uma pausa para os estudos
Era dia de festa
Dançava-mos como loucos
Loucos na sala a dançar
Tínhamos a música
As sentíamos
Como um louco
Restava dançar

Que jeito estranho de ser feliz
Esse de não escutar
Nada, além
Da música a tocar
Dizem que a vida é
Uma espécie de aprendizagem
É, um prece crua

Em mim, há erros, acertos
Nos erros, há vida
Nos acertos , há vida
Não tenho o que me desculpar
Meus Deuses não querem
desculpas nem lamentos

Eu sou livre
Um louco aos olhos
De quem só
mente
sabe
A Palavra
Perdão

Meus Deuses  querem guerreiros
Livres
E amor, muito dele
Sempre bravio
Em bosques ou matas

Por onde caminhar
Há escolhas que levam
Face a face
As minúcias do entretanto
Face a face
A outra,
A não escolha

Sabem
Bravio
Seja lá onde for
Seguindo
Seja lá o que for
Seguindo
Seja lá como for

Vai,
Se tiverer sorte
Vai com ela
Sem medo ou culpa
Livres

Como loucos
desprovidos de verdades absolutas
Cegos
Só, a dançar

Com amor, vai



Dizem que o amor é essa coisa quando você se vê no outro de um modo tão dialético que quando você percebe se projeta a ponto de acharem que são um mas aí uma hora a ficha meio que cai dizendo “ei, que porra é essa” e aí é como se o reflexo do espelho se movesse e virasse as costas e você não tem mais referencial pra pentear o cabelo e fica muito mal mesmo porque você realmente gosta do seu cabelo e pensa que tá saindo na rua com ele todo bagunçado. Daí em algum momento você precisa tomar uma atitude. Uns raspam logo a cabeleira e saem por aí carecas - eu tenho orelhas de abano e aprendi a ajeitar o cabelo com as mãos, sem precisar de espelho nenhum - mas aí eu sempre fico pensando em como será que tá minha imagem que há muito se foi. Eu poderia cortar logo o cabelo de outro jeito, mas sei que ficaria muito escroto e meu cabelo é muito liso, fica sempre assim como tá agora, não adianta mesmo, acredita em mim. Pois bem, acho que é mais ou menos isso o amor - a gente sempre tem os good e bad hair days


Vera não viu

Sobre Vera


Quem é Vera?

A gente só sabe que ela mora aqui do lado

E que escreve cartas

Uma vez emprestou uma panela de pressão quebrada

Mas ninguém morreu 

Ele se foi



Mas antes disse:

Calma,
 você consegue
 uma coisa de cada vez
vai indo

A carta



Dona Vera ouviu  da janela
 Mais alguns devaneios
O  ruído de cadeiras batendo ao chão
Fumaça,
Cheiro do café
Impaciência nos passos
E a voz
- Pedro, vou escrever uma carta.

                                                                                   *   *  *
Níteroi, 04 de setembro de 2014
Oi, feia!

       Quanto tempo desde o último devaneio sentimental que escrevi. Não levando em consideração os e-mails ou mensagens, mas, da coisa viva. Da letra torta sobre o papel meio amassado, sujo de café.
 Lembra da minha primeira cartinha? 

Com versos plagiados das músicas que escutava, aleatoriamente, no rádio do ônibus. Eu ainda sou brega e isso não é o problema.
 Eu te escrevo porque - de fato isso não faz sentido - Além da minha imensa vontade de te escrever. Só quero deslizar minhas mãos sobre este papel,  abafar os ouvidos com os fones e ouvir minha playlist.
Você imagina?
Qual música alguém escutaria, e teria  uma trilha sonora de pensa em você?

 Será que ela daria replay e continuaria pensando?
E se esse momento fosse um grande replay?
E se nossa vida inteira fosse um reprise? Digo, chegar ao final dela com a certeza de que a mesma música começaria outra vez.
Você se orgulharia da pessoa que foi? Ou de quem encontrou no caminho?
Se acalentaria balançando o corpo na leve melodia que insiste em tocar?
Um dia procurei no dicionário dos símbolos o que era o amor, por achar que coisa tão abstrata merecia de explicações igualmente abstratas. Algumas vezes procurei explicações sobre você. Mas, a música ainda tocara, fechei os olhos balançando o corpo ao compasso da melodia.
Nada disso precisa de sentido ou explicação, além, do fato de ter sido bom. Ter tido essa vida foi boa, do começo ao fim. Eu sou tão feliz que dizer isso parece presunçoso ou uma farsa.
 Por que a felicidade tem que ser escondida? Por que, as vezes, ela parece falta de educação?
Será que a felicidade realmente tem que ser trancafiada, por causa do medo da   Miséria que rodei?

 Esta, à espreita, e que em qualquer deslize, te lança um golpe fatal desnudando da alma a felicidade . Mal sabem, que roubar a felicidade de alguém não as tornam felizes.
 Eu te desejo muitas coisas, uma vida boa, amor e ate riquezas. Mesmo sabendo que você só precisa, realmente, de um deles, seja la o que fizer.
 Sorte!
 Karine Maia

novo

você me disse que gostava de todos os poemas e eu disse
Não
Não é possível que você goste
De todos
Não é possível que todos os poemas te digam
o que me dizem
te digam algo
Indizível

E você me olhou com aquele olhar de quem diz
O mundo
Pode ser escrito
Em versos

Eu não acreditei, mas
Naquele momento
a frase o conceito o enredo
mudaram de