6.11.15

Niterói, Novembro de 2015


Eu tinha mais ou menos 12 anos quando comecei a gostar de mitologia e misticismo. A ideia de algo incompreensivo, de uma natureza oculta, de um Deus sem face, sem motivos para esta aqui, era fascinante. Nessa mesma fase descobri o tarot. Facilmente  me identifiquei conhecido como arcano zero ou o 22, o arcano sem número, podendo ser a primeira carta ou a última, tudo dependia da interpretação de quem o jogava. Não sou uma taróloga profissional, e confesso que meu conhecimento sobre o jogo dos acasos é bem limitado. Mas essa carta acompanhou muitos momentos da minha vida. Cresci, amadureci, e a figura do louco me transpassava o semblante em cada julgamento externo. Talvez pelo minha estapafúrdia mania de só fazer o que quero, quando quero, de falar o que acho certo, na hora que julgo a mais apropriada. Vejo pessoas e seus jogos; de corpos com o outro corpo,  egos, duelos por ideias, a sedução,  simples e entediante, me recuso a jogar esse jogo. 

 Quantos de vocês já sentiram que não pertencia ao mundo dos homens? Quantos de vocês os abandonaram e começaram a fazer suas próprias regras? Nunca entendi muito bem porque seguir alguns padrões e o preço que eu paguei? O semblante de louco, a andarilha de lugares, grupos, pessoas, pessoas, ideias, bares, festas. Ando por todos os guetos, conversando, trocando, somando, me assustando e fascinando com outro, suas paranoias e tentativas, também estapafúrdias, de aceitação, com suas visões únicas sobre o que é a vida. Carrego  minha bagagem e a roupas surrada de quem já esta cansada de tanto caminhar, mas que ainda não encontrou motivos para parar. Talvez eu nunca os tenha. O cansaço que as vezes me abate é pelo excesso de realidade que me escancara a mente e a alma. Pequena herança de todas as conversas, coisas, pessoas e pessoas e o esplendor da natureza. 

-Por que corre?
- Porque preciso disso...
- Por que?

E o silêncio tomou conta do consultório gelado, mas de cores quentes. O abajur mudou, os móveis mudaram, o tapete que ficava aos pés do divã foi tirado. E eu, que sempre fico descalça ao começar a análise, estranhei o gelo que vinha do chão porcelanato.  O corte foi feito, nos despedimos, entrei no elevador de vidro. Vejo a cidade do alto descendo lentamente até chegar ao térreo, o fim e o começo de uma longa caminhada para a casa.  

Incomodo é a sensação de calma pra quem sempre teve sede. Estou morrendo de fome e saciada pelo vazio, não tenho nada, só o presente, só recordações de uma vida inteira, rodando em 3 segundos de trás pra frente, horas sem ordem, tudo cessa, tudo volta a rodar outra vez.

Não tema, estamos todos enlouquecendo.







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