6.10.14

Tempos difíceis

Lembro-me de ouvir meus avós e seus lamentos apocalípticos sobre os novos tempos. Achava esse clichê uma característica de quem não entendia toda revolução tecnológica e a maior liberdade social. 

Mal sabia: tola fui eu.

Era domingo à noite e da minha janela não ouvia a Vera, mas outra mulher pedindo socorro, uma menina chorando,  gritava “para, para, pai”. Vi que a estúpida violência ainda estava aqui. Nesse bairro classe média alta, e suas ‘elites’, intelectuais, econômicas, financeiras, políticas.  Acusam a periferia de violência e ignorância. Quem é o violento?

Mal sabem estes: tolos são eles. 

Anos de estudos e massacre em prol da ciência, será que não percebem? Ainda vivem nas cavernas. Suas merdas poluem os rios sagrados que os ditos primitivos tanto preservaram. E agora choram ao leito seco Cantareira. Quem é o primitivo?

Está tudo errado. Tola fui eu de acreditar que não. E os gritos daquela multidão: “Não!”, “Fora”; a criança pirracenta já em silencio a caminhar.  Eu poderia dizer que estou de luto, mas é ingenuidade,  luto  pelo que já estava morto muito antes deu nascer.

Enquanto escrevo, sinto o peso das mãos da minha avó no meu ombro:

- Se acalma filha, tempos difíceis virão.



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