Lembro-me de ouvir meus avós e seus lamentos apocalípticos
sobre os novos tempos. Achava esse clichê uma característica de quem não
entendia toda revolução tecnológica e a maior liberdade social.
Mal sabia: tola fui eu.
Era domingo à noite e da minha janela não ouvia a Vera, mas outra
mulher pedindo socorro, uma menina chorando, gritava “para, para, pai”. Vi que a estúpida
violência ainda estava aqui. Nesse bairro classe média alta, e suas ‘elites’,
intelectuais, econômicas, financeiras, políticas. Acusam a periferia de violência e ignorância.
Quem é o violento?
Mal sabem estes: tolos são eles.
Anos de estudos e massacre em prol da ciência, será que não
percebem? Ainda vivem nas cavernas. Suas merdas poluem os rios sagrados que os
ditos primitivos tanto preservaram. E agora choram ao leito seco Cantareira.
Quem é o primitivo?
Está tudo errado. Tola fui eu de acreditar que não. E os
gritos daquela multidão: “Não!”, “Fora”; a criança pirracenta já em silencio
a caminhar. Eu poderia dizer que estou de
luto, mas é ingenuidade, luto pelo que já estava morto muito antes deu
nascer.
Enquanto escrevo, sinto o peso das mãos da minha avó no meu
ombro:
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