27.12.14

Metáfora


Eu sempre gostei dos dias chuvosos e frios. Sempre. Eu amava acordar ouvindo o barulho da chuva. Pra mim, o sol e aquele calor nunca fizeram falta. Os dias com o céu azul e o vento batendo no rosto também não. Mas aí, foi olhando pro céu num desses dias quentes de verão que eu vi o passarinho mais lindo de todos voando. E por um momento eu esqueci do que eu gostava e passei a amar olhar pro céu claro com os olhos ardendo só pra ver o passarinho voar. E parece que o passarinho lá do alto também gostava de voar só pra me impressionar e depois vir caindo bem levemente até se aproximar de mim. Eu, sem muito saber o que fazer, quase que num ato instintivo, ofereci meu dedo, mesmo com medo de ser machucada, de machucar, de não saber segurar o passarinho ou sei lá. Medo só de estar ali nos dias ensolarados. Não sabia o que dar pro passarinho comer, como cuidar, como me acostumar com os tais dias ensolarados. Passei a ter medo dos dias de chuva por ter medo do passarinho voar. Passei a gostar dele pousado no meu dedo e isso aos poucos foi se tornando motivo de alegria pra mim. Era gostoso estar nas tardes quentes, sempre no mesmo horário, vendo o passarinho alçar os mais belos voos e depois vir se aconchegar em mim.
Talvez essa seja a definição de amor mais pura que eu consiga dar. Um passarinho pousado no meu dedo num dia ensolarado. E todo o medo, e toda a dor, e toda a vontade dos dias nublados e chuvosos foram embora quando o passarinho pousou e ficou no meu dedo.
Talvez o passarinho voe no inverno. Talvez ele queira ficar comigo. Talvez a gente construa um ninho. Talvez os dias frios e cinzas cheguem. Talvez o meu dedo não seja o melhor nem o mais preparado pro pouso, mas ter o passarinho por perto faz tudo valer a pena.
O amor é um passarinho pousado no meu dedo. É isso.

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