6.1.15

infanciaeloucura







hoje vi numa dessas revistas da verdade que vida é movimento, vida é barulho portanto, diziam, não perturbem as crianças, dizia, não perturbe as crianças com esse fique quieto, ser humano em construção




"As crianças enlouquecem em coisas de poesia.
Escutai um instante como ficam presas
no alto desse grito, como a eternidade as acolhe
enquanto gritam e gritam
(...)
- E nada mais somos do que o Poema onde as crianças se distanciam loucamente."











ouço as crianças do pátio do prédio
prematura classe média, sim, exposta já ao grande produto social moderno


























gritam e gritam mas, não sei, o eco refletido na parede traz um tipo de
um tipo de paz,
um tempo o mesmo








"Trata-se do excerto de uma poesia. Gosta de poesia? Sabe o que é poesia? Tem medo da poesia? Tem o demoníaco júbilo da poesia?"








se vida é movimento é barulho é riscar pontos com traços
mais parece que ficamos parados nós da cidade
mais parece perdemos o senso
(chicote não é bússula também dizia revista)
mais parece burrice tamanha ser humano






lembra que parede também é ouvido
também ouvem portanto


"Pois veja. É também um estilo. O poeta não morre da poesia. É o estilo"














"Está a ouvir como essas enormes crianças gritam e gritam, entrando na eternidade? Note: somos o Poema onde elas se distanciam. Como? Loucamente. Quem suportaria esses gritos magníficos? Mas o poeta faz o estilo."



descansa.
























HELDER, Herberto. "Estilo" in: Os passos em volta. 11ª edição.
Lisboa: Assírio & Alvim, 2013.



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