19.5.15

"ALUGA-SE UMA VAGA" ***Segunda parte***



Depois que meu irmão mais velho casou, travei uma longa batalha com a minha mãe pelo quarto dele. Isso porque eu queria transformar o quarto em um "escritório", minha mãe queria um quarto de passar roupa e um depósito para guardar enfeite de festa de família.

- Mãeeeeee, cade o meu sofá?

- Já falei que esse sofá é pra ir pro  lixo! Não tem como abrir minha tábua de passar roupa.

-Mas esse sofá é perfeito pra esticar a coluna depois de longas horas no computador

- Pra que? Pra você virar as noites no Orkut e no MSN, acordar atrasada pra aula e dormir a tarde inteira. Você esta estragando a sua saúde com essas porcarias.

- Dessa vez é diferente, eu vou escrever em um blog, já comprei tudo!

- Só quero ver!

Era só uma questão de tempo até esse bloquei intelectual, que  durava 22 anos, passar. Enquanto isso o meu maior problema era arrastar um sofá de 2 lugares para o quarto outra vez. Só precisava de um nome, uma ideia, algo que fosse realmente bom. Fiz o que sabia fazer de melhor, contar com a sorte. A internet estava ai para isso, navegar a derive no vasto mundo de informação e acasos.

A ideia nunca vem se sua mente não estiver preparada para recebe-la. O amor da sua vida vai esbarrar diversas vezes com você na rua se jamais estiver preparado para reconhece-lo. A melhor oportunidade de emprego se perderia  se você tivesse achado que seria incapaz de consegui-lo, se não tivesse ido a entrevista, se não tivesse na frente  do RH com olhos audaciosos de quem sabe o que aquilo é para você. O obstáculo é invisível, embora as vezes real,  a pergunta que fica é "como"? Como reconhecer todas essas coisas?

Um dia me matricularam no colégio, decidiram que roupa eu deveria vestir, fiz algumas provas, passei, automaticamente fui para a próxima etapa, ai eu entrei na universidade, assinei alguns papeis e estava esperando essa etapa passar também. A vida de classe média, medianamente passa de etapa em etapa,  tão morna, fiquei esperando ser cuspida no mercado trabalho sem pensar muito sobre isso, como havia feito até então.

Uma música tocava enquanto esperava as outras baixarem no eMule, a barra de tarefas brilhava em laranja avisando novas mensagens no MSN e eu lia alguns grupos no Orkut. Já passava de uma da manhã, nessa altura nem lembrava mais sobre fazer um blog ou algo tão genial. Entrei em um grupo pequeno de uma festa de amigos que havia ido a alguns dias atrás. Comecei a stalkear  a lista de membros, sem nenhum motivo aparente além de mera curiosidade. Um dos membros me chamou atenção, não só por pela beleza, mas pelo fato de jamais o ter encontrado em festa alguma, ninguém o conhecer, não ter amigos em comum e mesmo assim esta ali.


Ouvi certa vez que a gente só muda de perspectiva quando algo te coloca em uma posição de desconforto, estresse, trauma, fim de ciclo. Eu não sei se essas coisas são verdades, comigo funcionou assim: Um amor, o mundo que desabou sobre minha cabeça, um e-mail misterioso, recebido depois de uma noite de bebedeira,  uma universidade que não lembrava que havia prestado vestibular (pelo menos não para aquele campus), a preocupação com  mensalidades abusivas das universidades privadas e o "aluga-se uma vaga" passou a fazer parte da minha rotina.

Esse blog nasceu de um surto, outras pessoas compram a ideia e começamos a produzir sobre qualquer coisa. O amor de verão passou, a faculdade está no final,  jornada que se encerra. Vamos entregar o apartamento daqui alguns meses o que me fez perceber que não demorará para que esse blog, como tantas outras coisas na internet, seja apenas um depósito de lembranças de um período de minha vida que julgo, até então, o mais importante, que me transformou no que sou hoje. Desde o inicio o blog recebemos bastante visitas diárias, mas não temos ideia quem são essas pessoas, como nos encontraram? O que querem ouvir?

Posso começar essa história pelo dia que entrei na República Vera ou continuar de onde parei. Ainda não sei o que será. Isso é para você que de certo modo nos acolheu, façam um sinal, pisquem as luzes, comentem, seja lá o que for. Decidam esse final.








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