20.1.16

Chovia gotas espaçadas no céu branco manchado de cinza. Pensei que talvez fosse hora de ir para a biblioteca outra vez. Pensei ser, peguei uma garrafa de água, meus livros, levantei a barra da calça e abri a porta apressada. Era um prédio com vários blocos em seu quintal como sobrados e puxadinhos em terreno de família grande. Caminhei alguns metros, sentei no banquinho do play esperando a chuva passar.

Eu estava sozinha outra vez. O celular na mão sempre dá a impressão que estou imersa em festa com o mundo inteiro.

Vibrava e vibrava e ela me fazia perguntas outras vez.
Eu criança corria pela vastidão do quintal do prédio. Atrás da pilastra me parece um bom esconderijo. Você contava:

- 1, 2, 3... pode ir?

Eu em silencio esperando que fosse, que  me achasse dessa vez sem que eu precisasse dizer uma só palavra. Queria senti-la de longe olhando, tentando identificar se aquilo era uma pessoa ou não e se fosse talvez pudesse ser eu. Talvez estava predestinado a ser eu, nesse segundo, nesse ano, nesse século, como um humano, a mulher que em seu ventre dá play ao ciclo da vida, te espero incansavelmente para a próxima melodia, mais um começo.  

Suas perguntas estão aqui, como quem diz em uma brincadeira de pique esconde:
- Acho que tem alguém ali escondido atrás da pilastra. - Se aproxima, sei que encontrou meu esconderijo dessa vez.

 Quer saber quantas vezes alguém quebrou meu coração? Quantas vezes eu mesma fui o próprio desastre de alguém?  Quer saber com quem eu me deitei semana passando e de olhos fechados no escuro só conseguia enxerga você e tudo me saltava a cabeça:

 - Essa menina é uma furada, uma farsa, ela achou meu esconderijo e eu nem de longe a vejo, nem sei quem ela é.

Quer realmente saber? Está a um triz de tudo, um triz de me perder, um triz de se perder, a um triz de perdemos juntas as próprias cabeças. Estou gritando:

- NÃO ME PERCA, VAI VALER A PENA . ! ?


O que faço se gritar contigo é como evocar meus fantasmas e chama-los para um grande duelo, onde uma só pessoa poderia sair viva? Mas eles são só fantasmas, sombras de um contornos mal definido. Não os vejo, não te vejo, lanço vários golpes a esmo que parece não acertar ninguém. Estou cansada de joelhos implorando para que me mate porque eu já perdi essa luta. Implorando, rindo gargalhando porque perder é ganhar outra chance andarilha de recomeçar, seja lá onde for. 

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