12.1.16

o que aprendi com david bowie

morreu ontem david bowie. estranho, um dia de despedidas já estabelecidas, sabe, ele estava velho, dias antes lançara seu último clipe, quase um testamento, quase um até logo.




david bowie foi um desses artistas que me tocou de um modo deveras estranho. antes de ser seu fã, já entendia de antemão que tinha uma mensagem forte a ser passada, pensava, compreendi logo que sua voz e seu ritmo provavelmente me marcariam. eu, no entanto, não procurava saber mais que isso. talvez arrogância, quem sabe preguiça, a questão é que me acomodava bem apenas esse vago sentimento de empatia, bastavam-me esses pequenos laços criados por ele.

foi quando visitei sua exposição que tudo mudou.

mudou, primeiro, porque estava em berlim, céus, que cidade incrível, é virtualmente impossível não adorar o bowie depois daquela exposição naquela cidade naquele contexto com a melhor compania possível (beijo, lucas). suas roupas, seus cenários, seus rascunhos e pensamentos, sua trajetória e suas fãs, tudo dizia: DAVID BOWIE É.

desde então sua música passou a ter um sentido próprio em meu âmago. não sei explicar (quiçá ninguém saiba), apenas parecia-me correto demais escutar buddha of suburbia ao cruzar a baía de guanabara todas as manhãs a caminho da faculdade, ou starman no metrô, ou heroes no final de domingo enquanto lia-se qualquer blog internet afora.

foi david bowie quem me mostrou, de um jeito que nunca havia entendido, que eu posso, sim, ser quem eu quiser. talvez não materialmente, esse vago parâmetro humano de existência, mas sob uma forma ainda mais efêmera e, por isso mesmo, com tanta força: posso imaginar-me como quiser eu.

porque se visto uma roupa ou tiro uma foto parte de mim se esvai, parte de mim agora é capaz de comunicar-se com outras tantas pessoas que também querem se comunicar. o jogo de expressão ficou tão mais consciente após entender bowie e sua excentricidade, a vida cotidiana pareceu-me cada vez mais compreensível e aprisionante, cada vez mais podia sentir, com meus olhos, que a chave para a libertação está dentro de nós protegida pelo manto da silusões socialmente construídas - e, por isso mesmo, tão fascinantes de serem destroçadas.

com bowie eu comecei a me soltar e me sentir solto. com bowie eu passei a esperar algo a mais, algo de mais fascinante do que a prisão mental na qual nos condicionam. com bowie eu aprendi a enxergar mais que muitos livros, a escutar mais que muitas esculturas, a voar com palavras, a pensar em sujeitos.

http://manifestacoes2013.corgiorgy.com/



bowie entrou para a história, mas eu sei que, sendo tão bowie quanto bowie, possivelmente não entrarei nesta linearidade temporal que criamos para dar sentido ao tempo.

crio minha própria cadeia de eventos que se subtraem e multiplicam a experiência espaço-sensorial e nem por isso sou menos bowie que bowie. faço-me bowie na medida de meus desejos, torno-me bowie na consequência de meus esforços.

obrigado, bowie, pelas lições. seguimos.






update 20/01

a warner mandou retirar o video acima disposto na postagem. talvez queiram tirar dinheiro da morte de bowie vendendo arquivos em mp3



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